15 outubro 2007

28 weeks later - Maintain the Quarantine


Sou um fã do primeiro filme, 28 Days Later, e gosto dele não só porque é um bom filme de zombies, mas porque sempre gostei do misticismo que Londres envolve, tanto que adorava lá ir de propósito só para ver o filme. Cidade que, no filme, vemos deserta e dizimada pelo vírus mortífero que transforma seres humanos de bem em máquinas de matar canibais, sedentas de sangue. Deve ser giro ver a Londres apocalíptica do filme e, no fim da sessão, ir passear pelas ruas da cidade. Sou fã também da maneira como Danny Boyle e Alex Garland reinventaram o mito dos mortos-vivos (estes podem correr!). Estava expectante para saber o que o realizador espanhol Juan Carlos Fresnadillo ia fazer na sequela, 28 Weeks Later, já que gosto muito do filme que ele fez há anos, Intacto. Supunha que mal ele não iria fazer e havia excelente hype vindo lá de fora, com algumas pessoas dizendo que 28 Weeks Later era até superior a 28 Days Later. Por isso, e perante a incerteza sobre a estreia nacional deste filme, lá mandei vir o download do filme da Amazon britânica.

Estou arrependido? Não. Mas é melhor que o primeiro? Não. É um bom filme de zombies? É.

Mas é, possivelmente, o mais esquemático e despachado filme de zombies da História. Quando olho para a ficha técnica e constato que 28 Weeks Later foi escrito, para aí, por cinco tipos, fico a pensar se não terá havido pelo menos uns três deles que passaram as reuniões de brainstorm só a aproveitar-se das pizzas pagas pela Fox. Uma coisa gira nos clássicos de zombies - e isto é válido para todos eles, sejam os de Romero, o recente remake de Dawn of the Dead, o 28 Days Later original ou a paródia Shaun of the Dead - é que são protagonizados por grupos sólidos de personagens, cada uma representando uma característica particular do ser humano. Reza a tradição que há sempre um bando - que até pode, eventualmente, acabar por ser todo dizimado - que a gente vai acompanhando na luta pela sobrevivência e com cujas personagens, visões da vida e métodos nos vamos ou não revendo. Sim, os mortos-vivos são sempre um petisco, mas se não houver contraponto humano, a coisa não resulta tão bem.

E esse é, para mim, o único grande problema de 28 Weeks Later: é um filme espectacularmente bem realizado e montado, capaz de criar ambientes assombrosos e de provocar uns sustos e uns arrepios valentes mas... alguém se esqueceu das personagens. Não só o núcleo principal é miseravelmente pequeno, como é constituído pelas mais subdesenvolvidas e indiferentes figuras que o cinema de terror criou nos últimos anos. Se há exércitos de zombies assassinos à solta, é bom que haja pessoas de carne e osso - e os heróis de 28 Weeks Later, muito sinceramente, não são nada mais do que carne para canhão. Ou para morto-vivo, para ser mais exacto.

É pena, porque Fresnadillo é um realizador do caraças e se a matéria-prima fosse melhor, 28 Weeks Later seria um maravilhoso maná para fanáticos do horror. Não é que seja mau, longe disso - à boa maneira dos clássicos de Romero, o filme é politicamente afiado (embora um bocadinho básico), obrigando os protagonistas a fugir não só dos zombies como também do todo-poderoso exército norte-americano. No departamento do terror, há algumas set-pieces agradavelmente horríveis, como a entrada de um único zombie num local claustrofóbico, cheio de gente e o caos subsequente, ou uma sequência numa estação de metro completamente às escuras e onde nem a visão nocturna da arma de uma das personagens vale de muito. Mas quando 28 Weeks Later termina, não nos sentimos com a barriguinha tão cheia como com 28 Days Later. Temos um buraco no estômago, no local onde era suposto termos pena, empatia, admiração ou ódio pelas personagens. Seja como for, e mesmo com estas reservas, ainda tem muito que se recomende. Para fãs do género, claro... além de que a banda sonora que já por si é fantástica, como ainda como participam também os Muse...

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