07 outubro 2007

Planet Terror

Por estranho que pareça, uma das sensações que Planet Terror (a outra metade da aventura Tarantinesca-Rodrigueziana Grindhouse) me provocou foi um grande aconchego. E não há aqui nenhuma ironia: este delírio febril de zombies, strippers pernetas, médicos psicóticos e mais 576 coisas - pelo menos - teve em mim o mesmo efeito de uma chávena de chocolate quente na noite de Natal, depois da abertura dos presentes. Por uma razão: mais do que fã, sou fanático dos filmes de John Carpenter. O tipo de fanático que encontra coisas boas até mesmo nos filmes mais fracos do mestre, como Os Fantasmas de Marte. E como Carpenter agora está mais virado para a televisão e para os Masters of Horror do que para o cinema, ao ver Planet Terror senti aquele tremendo gozo que se sente perante uma das sagas de Snake Plissken ou as aventuras de Jack Burton nas garras do Mandarim. Como qualquer tributo a um mestre, Planet Terror não é melhor que as melhores coisas de Carpenter (e não é em cinemascope), mas é tão divertido, está feito com tanto entusiasmo e tanto gozo, que acho muito difícil que alguém que tenha genuíno amor pela série B e pelas fitas Carpenterianas possa sair desiludido de Planet Terror. Sim, é violentíssimo (tanto, que dá a volta toda e transforma o gore em material cómico de primeira, como nos primeiros filmes de Peter Jackson de Braindead), doentio, politicamente incorrecto. Mas é um extraordinário party movie, um verdadeiro Pictionary do cinema, a fita capaz de animar histericamente um serão entre amigos quando estiver disponível em DVD, e de inspirar drinking games. E é também a melhor paródia de série B desde Marte Ataca!, de Tim Burton.

É melhor ou pior que Death Proof? Não faço ideia. São duas feras distintas e gostei muito de cada uma delas de maneiras diferentes. Planet Terror acaba por ter um sabor especial por uma razão: Tarantino nunca me desiludiu; Rodriguez desceu a profundos abismos de mediocridade à medida que a saga Spy Kids ia avançando e temi que o outrora talentoso realizador de El Mariachi não conseguisse voltar cá acima. Com Sin City e Planet Terror, o homem prova que há vida nos Troublemaker Studios. E então se agora a seguir transformar o maravilhoso trailer Machete (servido antes de Planet Terror) numa longa-metragem, como se diz que vai acontecer, pode dizer-se que todos os seus pecados poderão estar perdoados. Aleluia! E acho que vou ver outravez...

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