16 março 2008

Coraline

Gostaria de começar com uma pergunta: vocês já leram Alice no País das Maravilhas e, melhor ainda, Alice no País do Espelho (ok, eu sei que a tradução não condiz realmente com o nome original, Alice Through The Lookiing-Glass, mas o que é que se pode fazer… quase que temos que obrigatoriamente traduzir sempre tudo mesmo que nada tenha a ver com o título original...)? Bom, aos que leram, muito bons, não são? Criados por Lewis Carroll no século XIX, o primeiro foi uma história - alucinante - contada numa tarde para a pequena Alice Liddell, ambientado num país dos sonhos em que encontrava Largartas Gigantes, animais a correr sem parar á volta de uma pedra, um ratinho muito temperamental que conta uma história no mínimo esquisita e, para não esquecer, personagens cativantes (um pouco malucos) como o Gato de Cheshire, o Coelho Branco, a Lebre e o Chapeleiro Louco e a Rainha de Copas… Demais.

Já no segundo, também noutro sonho maluco, Alice viaja através do mundo do Espelho e encontra seres cada vez mais bizarros, Tweedle-Dee e Tweedle-Doo, Humpty Dumpty, a Rainha Vermelha e a Rainha Branca e fica extremamente perturbada ao não saber dizer se faz parte do sonho do Rei Branco que estava a dormir encostado a uma árvore… Estranho, não? Mas outra história fantástica, inspiradora de muitas outras, é o caso de Coraline, de Neil Gaiman.

Coraline? Sim, um livro que foi lançado pela Editorial Presença há alguns anos e conta a história de Coraline - e não Caroline - quando se muda para um apartamento com os seus pais, repleto de portas, janelas e, por que não, mistérios. Como eu adorava fazer quando era puto na casa da minha avó (e duvido que não haja ninguém que não gostasse dessa brincadeira ), o hobby de Coraline é explorar todos os arredores da casa, quando encontra um gato, muito diferente do Gato de Cheshire, mas a certo ponto também falante… Uma versão dark do nosso Bichano de Alice. Pois bem, ela encontra 22 janelas e 14 portas, mas a história não pára aí.

Hoje em dia oiço várias vezes ao dia as pessoas chamarem-me por Lecas e não por Tiago, a alcunha prevaleceu no meu local de trabalho de tal maneira que se perguntar a quem me chama de Lecas, certamente não saberá o meu nome real . Se me incomoda, não, nada mesmo. Mas ontem, um pouco antes de dormir e já envolto nos lençois da cama fiz a mim mesmo uma pergunta, se acontecesse isso durante a minha infância: obviamente que iria me irritar! Não há coisa mais assustadora do que ser confundido com alguém, ainda mais em criança, quando o seu “eu” é posto à prova e a única coisa que temos em nossa defesa é a nossa palavra, nada mais… (Carroll também fez isso em Alice Through The Looking Glass quando Alice entra numa Floresta em que todos os nomes são esquecidos, inclusivé o dela. Mas, como podemos perceber, Carroll aborda a questão de maneira, ao meu ver, mais sombria ainda ao tirar o nome de Alice e, portanto, talvez a sua própria identidade). Por isso, Gaiman brinca com o leitor inúmeras vezes com a expressão Coraline - e não Caroline, insistência que aparece freqüentemente no livro, quando Coraline é tida por Caroline pelos mais velhos…

Pois bem, o ponto alto do livro é quando Coraline encontra uma porta - que não deveria ser encontrada - trancada por uma fechadura estranha com uma grande chave estranha… Mal começo, não? Pois é… Coraline abre a porta e bem, aí o que vai encontrar é outra surpresa… Bem, este livro é Coraline - e repito, Coraline e não Caroline, escrito por Neil Gaiman, o mestre de Sandman e Mirrormask e que apresenta uma visão-homenagem muito interessante dos dois livros de Alice, senão uma versão quase gótica, sombria, daquelas que não se conta para crianças numa tarde como Carroll fez…

Bem, fiquei feliz em saber que Coraline estreará este ano no cinema em animação por Henry Selick, o mesmo animador de The Nightmare Before Christmas e com o roteiro de nada mais, nada menos que o próprio Neil Gaiman. Embora tenha lido apenas uma vez, Coraline difere de qualquer outro livro de qualquer seção infanto-juvenil de qualquer livraria por apresentar uma história de fantasia bastante bizarra - e também assustadora - numa escrita bastante fácil.
Só espero que o filme tenha o mesmo impacto que o livro, pelo que já vi do teaser, pode-se esperar algo muito agradável:

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