29 fevereiro 2008

No Country For Old Men

Antes de avançar com a crítica propriamente dita, gostaria de fazer um pequeno reparo sobre a data de estreia em Portugal de “No Country For Old Men”. Na minha opinião é inadmissível que um dos grandes filmes de 2007, nomeado para os principais prémios mundiais estreie em Portugal após a última grande entrega de prémios cinematográficos do ano que passou. Se o filme tivesse estreado em finais de Dezembro nos EUA até que eu poderia entender, mas estreou em princípios de Outubro, cinco meses de atraso não se compreende, especialmente quando existem produções americanas com menor qualidade que estreiam em Portugal apenas duas ou três semanas depois da sua estreia oficial nos EUA, sinceramente não compreendo. “No Country For Old Men” foi considerado pela AMPAS (Academy of Motion Picture Arts and Sciences) o Melhor Filme de 2007 e diga-se de passagem com muita justiça. É um Thriller/ Western algo atípico que nos leva numa viagem profunda á verdadeira natureza selvagem do Homem. Um frio relato sobre a violência, a ganância e a tentação da época em que vivemos, apoiado por magnificas interpretações e um belíssimo trabalho de realização.A acção localizasse nos Estados Unidos da América na década de 80.
Inicialmente acompanhamos o texano Llewelyn (Josh Brolin) um típico campestre Americano sem grande instrução e bom senso que se depara com uma grande descoberta no meio do deserto. Entre os destroços do que parece ter sido um brutal ataque entre duas facções de traficantes de droga, encontra um mala recheada de dólares, seduzido pela sua ganância, decide “roubar” a dita cuja. O pobre homem, nunca imaginaria a carnificina que a sua acção iria despontar, Chiguhr (Javier Bardem) um perigoso psicopata está bastante interessado naquela mala e irá fazer de tudo para a recuperar nem que para isso tenha que massacrar e matar todos os que lhe aparecem á frente. Começa então um perigoso jogo do rato e do gato que pelo meio vai ter outros intervenientes como o preponente e experiente xerife Bell (Tommy Lee Jones).

“No Country for Old Men” marca o regresso dos Coen a um género mais dramático e negro. A sua realização é tudo menos comercial, apresentando uma acção violenta e pouco convencional, a morte e os piores pecados marcam uma forte presença e talvez por isso o Vaticano ande por estes dias a barafustar com meio mundo o facto de o filme ter sido considerado um dos Melhores de 2007. Sem grandes adornos e efeitos especiais, é um bom exemplo de como não é preciso gastar muito dinheiro na criação de boas cenas, é apenas preciso ter um génio intelectual fora do normal.A maturidade cinematográfica dos Coen é notória, conseguindo criar na perfeição um filme carregado com uma atmosfera depressiva, todos os personagens de uma forma ou de outra aparecem carregados de negatividade e obscuridade. Através de uma realização estática e observadora, os realizadores vão desenvolvendo sem pressas a história sangrenta e negra. Outro factor muito característico do filme é o silêncio, a ausência da típica musica de fundo permite ao espectador concentrar a sua audição nos sons comuns mas muito detalhados (os passos, o vento, o motor do carro) que transmitem ao filme uma maior profundidade.
O argumento do filme também ele escrito pelos Coen e premiado com o Óscar de melhor argumento adaptado (baseado no livro de Cormac McCarthy) está muito bem construído. Ao misturar o típico western texano com o típico thriller, cria uma história interessante e pouco usual que sem duvida alguma revolucionou e espantou Hollywood. As personagens do filme retratam um pouco os filmes do velho – oeste, temos o Xerife, o bandido e o renegado todos entrelaçados num jogo de violência repleto de tiroteios e explosões, mas também temos o suspense dos thrillers com fugas e um pânico constante por parte da personagem principal. Os diálogos também tem uma forte presença no filme, por um lado temos diálogos mais concretos e menos elaborados das personagens menos instruídas do filme por outro temos as conversas e pensamentos platónicos, cultos e profundos principalmente protagonizados pelo Xerife.

O elenco do filme também se encontra a um nível fora do normal, Josh Brolin é um bom actor mas não dá muito nas vistas, a sua personagem apesar de ser uma das principais não impressiona nem é muito desafiadora, no fundo é um ladrãozito que se vê envolvido num conflito inesperado. A interpretação de maior destaque é sem dúvida Javie Bardem que interpreta um vilão psicopata que não presta atenção nenhuma ás regras da sociedade e á razão, esta sim uma personagem muito interessante de se acompanhar e tentar entender, algo que se torna bastante difícil devido á complexidade da sua personalidade muito bem construída por Bardem, logo o Óscar para Melhor Actor Secundário é completamente merecido. Outra interpretação interessante é a de Tommy Lee Jones, que veste a pele de um xerife experiente e seguro de si próprio, no fundo representa a única sensação de justiça do filme, é também a personagem que nos fornece um discurso mais moral e idealista, podemos dizer que é a voz da razão do filme.

As paisagens desérticas do Estado do Texas podem não ser muito apelativas na realidade, contudo a fotografia de “No Country For Old Men” torna-as enigmáticas e naturalmente belas, igualmente interessante é a forma como retrata as pequenas vilas do Estado e os próprios cenários de violência.Sinceramente não tenho muitos defeitos a apontar ao filme, a acção decorre com alguma lentidão de tal forma que o filme tem uma duração de quase duas horas e meia mas acho que não torna o filme mais aborrecido ou menos apelativo, pelo meio temos sempre as estrondosas explosões e a curiosidade de saber o que é que Chiguhr vai fazer a seguir. Forte e intenso, “No Country For Old Men” é sem duvida um dos grandes filmes de 2007, opiniões divergem e cada um tem direito á sua mas é muito difícil ficar-se indiferente a esta obra-prima dos Coen.

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