30 agosto 2007

The Shining


Já á bastante tempo que estou para falar deste filme, é talvez um dos mais marcantes filmes que assisti em puto. As imagens foram marcantes, a própria banda sonora e caracterização, assustaram-me na altura... a mim e a tantos mais. Numa palavra consigo descrever este filme: perturbador...
O argumento é simples. Um gigantesco hotel encoberto pela neve, algures nas isoladas montanhas do Colorado. Jack Torrance (Jack Nicholson), um escritor, oferece-se para tomar conta do local durante o Inverno, altura em que este se encontra totalmente deserto e, com ele, leva também a sua mulher e o filho, este dotado de poderes telepáticos e psíquicos – o shining a que se refere o título original. Este é o ponto de partida para o ensaio de Stanley Kubrick sobre a loucura e a solidão. E é também um dos mais assustadores filmes algumas vez feitos.À medida que as paredes do hotel vão parecendo cada vez maiores para tão pouca gente, Jack começa a ceder aos seus instintos violentos e a loucura começa a tomar conta de si. Ao de cima, vêm também os fantasmas de um hotel com um passado sombrio onde, segundo somos informados, um homem que ocupava no local as mesmas funções que Jack, assassinou a mulher e as duas filhas, suicidando-se de seguida.

The Shining é uma adaptação da obra literária de Stephen King, considerado por muitos um mestre na escrita de terror que, ao que parece, não terá ficado muito satisfeito com a película de Kubrick (tendo mesmo chegado a produzir uma mini-série, adaptada por si próprio). É um facto que Kubrick era conhecido por tomar liberdades criativas consideráveis quando adaptava livros ao grande ecrã (coisa que fazia em todos os seus filmes, basicamente), mas também o é que Kubrick era abençoado com um génio maravilhoso e a sua adaptação cinematográfica desta obra de horror roça a perfeição.Acima de tudo, porque antes de querer jogar com o seu tema, antes de viajar para os recantos mais obscuros da mente de Jack, parecia interessar a Kubrick a exploração da forma e, num certo sentido, jogar com as características de um género bastante preso a si próprio. Ou seja, tal como em todos os seus filmes, o realizador quis dar um passo em frente, levando o cinema de terror para um outro nível. E que nível, esse! Antes de mais, porque raramente um filme do género foi filmado com uma precisão tão milimétrica. O espaço do hotel explorado exemplarmente com o recurso aos planos gerais, reforçando a ideia da solidão; os hoje tão famosos travellings do miúdo a andar de triciclo nos corredores do hotel, tornando angustiante a expectativa de ver quem irá surgir do outro lado; a tela afogando-se em sangue; o baile; a casa de banho vermelha; a demente e retorcida banda sonora; o célebre “Heeeeeeere’s Johnny!”...

Perfeição cinematográfica, na forma como compunha os planos e explorava ao máximo as possibilidades de construção de uma cena foram atributos que sempre marcaram a carreira do genial realizador e que ele fez questão de preencher em cada fotograma de película. A tal ponto que se torna uma tarefa bastante difícil comentar um filme tão peculiar como The Shining. No fundo, trata-se de uma obra que precisa de ser vista (e sentida) para acreditar. Não se esperem sustos arrepiantes ao virar da esquina, mas sim uma viagem pelo labirinto que é a mente humana, pontuada aqui e ali por algum do humor negro, também ele com consideráveis doses de demência de Kubrick.E essa viagem é conduzida não só por um mestre da realização como por um mestre na arte da interpretação. Fala, claro, de Jack Nicholson, actor panteonesco que surge aqui num crescendo de insanidade ao longo do filme, apanhando o espectador desprevenido com uma força e um magnetismo viciantes. Da contenção soturna das cenas iniciais até ao extravasar total da sua habitual loucura, o actor tem aqui aquela que, não sendo a sua melhor performance, será certamente das mais marcantes da sua carreira e da cultura pop. Na altura, imagine-se, chegou a ser nomeado aos Razzie, galardões que distinguem os piores filmes do ano, mas é hoje visto como um clássico do género. O tempo trouxe-lhe reconhecimento, e fez deste filme mais uma prova do génio do seu autor.


Trailer:


Eis a cena mais perturbadora:

1 comentário:

Anónimo disse...

O melhor filme de terror psicológico que alguma vez vi!
Kubrick com uma realização de uma qualidade soberba a mostrar que o cinema de terror ainda tem muito que aprender com esta obra-prima!
Talvez o segundo filme de Jack Nicholson que vi (o primeiro que vi foi o Batman), e o seu desempenho é absolutamente inigualável. A transformação mental a que vai sendo alvo ao longo do filme é conseguida na perfeição! Quanto ao puto é que nunca mais ouvi falar nele... foi pena!
Quanto ao filme mais nada a dizer: Brilhante!