
“TARANTINO, GAJAS BOAS E CARROS VELOZES? Um filme sobre sexo e acidentes de automóveis. Como é que é possível não gostar ?”
Esta foi a critica que ouvi de um amigo meu de infância, o João Piloto, há uns anos atrás em relação ao “Crash” do Cronenberg. E a verdade que desde esse dia que esta frase se me apresenta como a mais perfeita critica de cinema que alguma vez ouvi. È claro que pecava por ser incompleta (o filme de facto era mais do que isso), mas o que é inegável é que ia direita ai assunto. E tudo numa frase.
Desde esse dia, tentei várias vezes fazer o mesmo, mas sempre sem sucesso. Até hoje.
Não faço a mínima ideia por onde andará o João Piloto nos dias de hoje, mas se o encontrasse na rua diria-lhe uma coisa. “Vai ver o último filme do Tarantino. Hás-de gostar”. “É sobre quê? È sobre gajas boas e carros velozes”. E pronto. Com isto ficava tudo dito. Numa só frase. Bem, na verdade não ficava. Ou melhor dizendo, teria que ser ligeiramente reformulada, porque a frase para ser completa tinha que referir Tarantino. È que misturadas com estes dois ingredientes, as gajas e os carros, estão as marcas de Tarantino, os longos diálogos sobre nada, (mas desta vez em de conversa de bandidos estamos perante conversas de miúdas da pesada (como é que se traduz “kick-ass girls”?)), mais as referencias cinéfilas e musicais apontadas aos anos 70 e autocitações ao universo tarantiano. E sem esquecer, claro, os grandes planos de pés femininos. Daí que a frase completa para resumir este filme teria que ser outra :
“É um filme do Tarantino sobre gajas boas e carros velozes”.
Esta foi a critica que ouvi de um amigo meu de infância, o João Piloto, há uns anos atrás em relação ao “Crash” do Cronenberg. E a verdade que desde esse dia que esta frase se me apresenta como a mais perfeita critica de cinema que alguma vez ouvi. È claro que pecava por ser incompleta (o filme de facto era mais do que isso), mas o que é inegável é que ia direita ai assunto. E tudo numa frase.
Desde esse dia, tentei várias vezes fazer o mesmo, mas sempre sem sucesso. Até hoje.
Não faço a mínima ideia por onde andará o João Piloto nos dias de hoje, mas se o encontrasse na rua diria-lhe uma coisa. “Vai ver o último filme do Tarantino. Hás-de gostar”. “É sobre quê? È sobre gajas boas e carros velozes”. E pronto. Com isto ficava tudo dito. Numa só frase. Bem, na verdade não ficava. Ou melhor dizendo, teria que ser ligeiramente reformulada, porque a frase para ser completa tinha que referir Tarantino. È que misturadas com estes dois ingredientes, as gajas e os carros, estão as marcas de Tarantino, os longos diálogos sobre nada, (mas desta vez em de conversa de bandidos estamos perante conversas de miúdas da pesada (como é que se traduz “kick-ass girls”?)), mais as referencias cinéfilas e musicais apontadas aos anos 70 e autocitações ao universo tarantiano. E sem esquecer, claro, os grandes planos de pés femininos. Daí que a frase completa para resumir este filme teria que ser outra :
“É um filme do Tarantino sobre gajas boas e carros velozes”.
Antes de comentar o meu primeiro gosto da experiência "Grindhouse", devo admitir que o projecto de Tarantino não seria aquele em que teria mais expectativas. O conceito inicial de um "serial killer" que ataca jovens raparigas "indefesas" munido de um carro "à prova de morte" não me parecia aliciante o suficiente para despertar o meu interesse. Paralelamente a isso, os comentários de Tarantino, admitindo que neste filme teria escrito dos melhores diálogos da sua carreira parecia-me mais "fogo de vista", num marketing a roçar o desespero... Como eu estava enganado!...

Tarantino consegue em "Death Proof" apresentar-nos um projecto diferente, e com uma capacidade de envolvimento do espectador, de um modo tão inesperado, que certas cenas são como um murro directo no estomâgo, criando pena, gozo, alegria, e raiva... Nunca tive uma experiência de estar em casa deitado na cama a ver um filme e onde me apetecesse gritar em plenos pulmões, como se falasse com as personagens femininas, incentivando-as a retaliar contra aquele homem tão perigoso como patético... É certo que terá sido a minha primeira experiência, mas isto é de facto o que esperava por "uma sessão Grindhouse"! E sim... viva o download!
O mais divertido de Tarantino é a sua cultura cinematográfica, denotada em várias referências a filmes específicos, e a estilos marginais que este projecto procura revitalizar. Numa "reciclagem" que nunca recusa as suas características principais, vemo-nos a ver um filme que poderia ter sido filmado nos anos 70, início dos anos 80, mas num contexto actual, cheio de telemóveis e carros modernos, que contrastam com o estilo "cool" de pequenas preciosidades, como o Chevy Nova de 1970 ou o Dodge Charger de 1969 que "Stuntman Mike" conduz...
Um dos grandes trunfos, como Tarantino já nos habituou, é a sua banda sonora, que ora num toque carregado, ora algo melodico, enaltecem todo o ambiente da cena que presenciamos...
Mas realmente o maior trunfo desta película são as suas protagonistas... Ser mulher e é entrar num filme de Tarantino é quase equivalente do que entrar num projecto de Almodóvar!... Embora Tarantino goste mais da imagem "sexy mamma", as suas actrizes têm uma densidade e diálogos que é raro de encontrar. Death Proof é um pleno exemplo disso. Nele surgem alguns grupos de amigas, que têm conversas naturais, honestas e abertas, aparentemente banais, mas que reproduzem a imagem de muitas mulheres que conhecemos. Curiosamente, Tarantino vai contra o esteriótipo e apresentam-nos um conjunto de heroínas inesperadas, muito para a nossa surpresa!...
Do grupo, as mais conhecidas, das quais se incluem Rosario Dawson, Rose McGowan e Mary Elizabeth Winstead, cumprem a sua função na trama, embora tenham um perfil mais "secundário" do que as restantes. Inesperadamente, são Vanessa Ferlito, Tracie Thoms, Zoe Bell e Sydney Tamiia Poitier que nos enchem as medidas, e que envolvem o espectador num frenesim partilhado, em busca de uma solução que salve as moçoilas de morte certa.

Quanto a Kurt Russell, há muito tempo que não o viamos em tão boa forma, e tão disposto a gozar com a sua imagem, num personagem que faz lembrar um Snake Plissken ("Fuga de Nova Iorque") em tons de negativo... Russell é competente, e apesar de notarmos que leva a sério esta oportunidade, certo é que não se leva demasiado a sério, fundindo-se no projecto, e contribuindo para resultado final positivo.
"Death Proof" é um bom exemplo da competência de Tarantino, que de planos e montagens aparentemente descuidadas consegue conferir coerência num projecto que é mais do que um modo de entretenimento, é uma experiência viva que nos estimula, numa expectativa de que "Grindhouse" ainda "tenha bastantes cartuchos" para o futuro!...

Tarantino consegue em "Death Proof" apresentar-nos um projecto diferente, e com uma capacidade de envolvimento do espectador, de um modo tão inesperado, que certas cenas são como um murro directo no estomâgo, criando pena, gozo, alegria, e raiva... Nunca tive uma experiência de estar em casa deitado na cama a ver um filme e onde me apetecesse gritar em plenos pulmões, como se falasse com as personagens femininas, incentivando-as a retaliar contra aquele homem tão perigoso como patético... É certo que terá sido a minha primeira experiência, mas isto é de facto o que esperava por "uma sessão Grindhouse"! E sim... viva o download!
O mais divertido de Tarantino é a sua cultura cinematográfica, denotada em várias referências a filmes específicos, e a estilos marginais que este projecto procura revitalizar. Numa "reciclagem" que nunca recusa as suas características principais, vemo-nos a ver um filme que poderia ter sido filmado nos anos 70, início dos anos 80, mas num contexto actual, cheio de telemóveis e carros modernos, que contrastam com o estilo "cool" de pequenas preciosidades, como o Chevy Nova de 1970 ou o Dodge Charger de 1969 que "Stuntman Mike" conduz...
Um dos grandes trunfos, como Tarantino já nos habituou, é a sua banda sonora, que ora num toque carregado, ora algo melodico, enaltecem todo o ambiente da cena que presenciamos...
Mas realmente o maior trunfo desta película são as suas protagonistas... Ser mulher e é entrar num filme de Tarantino é quase equivalente do que entrar num projecto de Almodóvar!... Embora Tarantino goste mais da imagem "sexy mamma", as suas actrizes têm uma densidade e diálogos que é raro de encontrar. Death Proof é um pleno exemplo disso. Nele surgem alguns grupos de amigas, que têm conversas naturais, honestas e abertas, aparentemente banais, mas que reproduzem a imagem de muitas mulheres que conhecemos. Curiosamente, Tarantino vai contra o esteriótipo e apresentam-nos um conjunto de heroínas inesperadas, muito para a nossa surpresa!...
Do grupo, as mais conhecidas, das quais se incluem Rosario Dawson, Rose McGowan e Mary Elizabeth Winstead, cumprem a sua função na trama, embora tenham um perfil mais "secundário" do que as restantes. Inesperadamente, são Vanessa Ferlito, Tracie Thoms, Zoe Bell e Sydney Tamiia Poitier que nos enchem as medidas, e que envolvem o espectador num frenesim partilhado, em busca de uma solução que salve as moçoilas de morte certa.

Quanto a Kurt Russell, há muito tempo que não o viamos em tão boa forma, e tão disposto a gozar com a sua imagem, num personagem que faz lembrar um Snake Plissken ("Fuga de Nova Iorque") em tons de negativo... Russell é competente, e apesar de notarmos que leva a sério esta oportunidade, certo é que não se leva demasiado a sério, fundindo-se no projecto, e contribuindo para resultado final positivo.
"Death Proof" é um bom exemplo da competência de Tarantino, que de planos e montagens aparentemente descuidadas consegue conferir coerência num projecto que é mais do que um modo de entretenimento, é uma experiência viva que nos estimula, numa expectativa de que "Grindhouse" ainda "tenha bastantes cartuchos" para o futuro!...
Em relação à questão sobre a exibição na Europa deste filme em separado do filme de Robert Rodrigues, que em conjunto compunham um sessão única, o que posso dizer é que, ultrapassando a questão de que se trata de uma adulteração da ideia original dos autores o que só por si a torna uma decisão negativa, a verdade é não me chateia a troca de mais 30 minutos de Tarantino por 90 de Rodriguez. Tenho pena de não ver falsos traillers, no entanto.
Já estreou a primeira parte de uma experiência que deveria ser dupla. Quentin Tarantino realiza “Death Proof”, mas só em Setembro chegará às nossas salas “Planet Terror”, a metade correspondente a Robert Rodriguez. Não percebo o que o mercado europeu possa ter contras as sessões duplas...
"Rodriguez e Tarantino escreveram e dirigiram, cada um, um filme de terror com uma hora de duração, previstos para serem exibidos juntos sob o título de "GrindHouse".
Na Europa, no entanto optou-se por exibir separadamente os dois filmes. Trata-se de uma homenagem às antigas salas de cinema que se dedicavam a exibir produções do género.
Em “À Prova de Morte” ("DeathProof")", o filme realizado por Tarantino, um piloto-assassino persegue as suas vítimas com um carro, usando-o como arma.
Em "Planet Terror", o filme realizado por Rodriguez, um casal tem que enfrentar um ataque de zumbis enlouquecidos. Este filme tem estreia prevista em Portugal a 27 de Setembro de 2007.
In Jornal Público"
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